Não banque o espertinho com IA
Não tente bancar o espertinho com IA (Don’t be a smartass)
Tem uma expressão americana bem recorrente quando um dos personagens tenta dar uma de esperto em cima de uma figura de autoridade (geralmente um policial) e é enquadrado com essa frase: Don’t try to be a smart ass!
Semana passada um cliente voltou a me procurar informando sobre a sua incrível descoberta que ele fez com (nas suas palavras) “a inseparável IA”: Que existia tal entendimento no STF.
O problema não é que ele usou a IA para procurar e entender mais da situação, mas a forma como a informação foi passada. Ao invés de dialogar e perguntar, ele lançou as informações como se a IA fosse a dona da verdade e eu não soubesse de absolutamente nada.
Esse tipo de comunicação comunica desprezo pelo outro;
Então não tente ser o mais esperto do mundo se amparando na IA e julgando que todas as demais pessoas são imbecis. Esse comportamento é justamente o que faz as IAs parecerem ruins.
Mas o que é ruim é a forma de comunicação empregada com essas ferramentas. Às vezes usam-na para inflar nossos diálogos, outras para supersimplificar ou ‘idiotizar’ o conhecimento do outro, como neste exemplo.
E isso com certeza não acontece só na advocacia…
Alguns dias atrás me deparei com este post que fala como o mantenedor do curl
, uma ferramenta de sobrevivência para qualquer aplicativo, se estressa não só com diversas solicitações, mas com supostos sabichões que querem achar bugs no código sem sequer terem conhecimento da tecnologia.
Outro ditado que eu também gosto é:
Não queira ensinar o Padre a rezar a missa.
Se eu não sou um programador profissional especializado, eu não vou querer me meter com o repositório de uma outra pessoa, a menos que eu realmente me dedique a isso. Se eu não sou um advogado especializado, é melhor usar a ferramenta para aprender e conversar, e não para querer impor um conhecimento razo ao outro.
Enfim, como eu sempre digo, nós precisamos usar a ferramenta de uma forma correta, para potencializar o nosso trabalho e não querer ensinar o trabalho para outras pessoas.
Um exemplo disso: alguns dias atrás eu estava trabalhando com uma automação de n8n e havia um comportamento diferente na forma da requisição, o que estava causando um erro.
O que eu fiz foi fazer a IA pesquisar para mim onde estava a requisição, como ela era feita e a intenção do programador através de uma busca no histórico do git, o que eu precisaria de pelo menos umas 3 horas de trabalho para fazer, mas resolvi em poucos minutos.
Ao invés de abrir uma issue no repositório, entendi que a proposta, apesar de ser diferente do padrão do sistema, foi intencionalmente alterar o comportamento daquela requisição específica. Deixei todo mundo em paz sem uma issue desnecessária ou mesmo tentando corrigir algo que não precisava ser corrigido.