Quando a Arte Espelha a Vigilância: Massive Attack e o Reconhecimento Facial

Quando a Arte Espelha a Vigilância: Massive Attack e o Reconhecimento Facial

Imagine a cena: você está em um show, imerso na música de uma de suas bandas favoritas, quando de repente seu rosto aparece no telão. Não como parte de uma gravação divertida da plateia, mas como um conjunto de dados processados por um sistema de reconhecimento facial em tempo real. Foi exatamente essa a experiência desconfortável e provocadora que a banda britânica Massive Attack proporcionou aos seus fãs recentemente.

A notícia, reportada originalmente por Al Landes no site Gadget Review, detalha como a banda integrou a tecnologia de vigilância ao seu espetáculo, transformando a audiência em parte de uma “obra de arte” sobre controle e privacidade.

Quando a Arte Torna a Vigilância Visível

A banda utilizou seu palco para forçar uma conversa que muitos preferem evitar. Durante o show, câmeras capturaram os rostos dos fãs, que foram analisados por um software de reconhecimento facial e exibidos nos telões como dados biométricos.

A reação foi imediata e polarizada. Nas redes sociais, parte do público elogiou a coragem da banda em expor de forma tão crua a realidade da vigilância digital. Outros expressaram profundo desconforto com a captura de seus dados sem um aviso ou consentimento claro. Exatamente a dualidade que a banda parecia buscar.

Proteção ou Permissão?

A polaridade não é só neste evento específico, basicamente temos também duas correntes de pensamento em oposição sobre a questão de privacidade e reconhecimento facial: uma que defende o uso indiscriminado do reconhecimento facial pela segurança global de toda a população e outra que defende o uso restrito, garantindo a liberdade individual e privacidade.

Qual dessas correntes você se filia?

Apesar de eu gostar muito desta tecnologia, estudar muito a visão computacional e seus possíveis benefícios para uma vida mais prática, eu sou da corrente da proteção individual e da segurança.

Porque?

Meu argumento central é: A história tende a se repetir. E os exemplos históricos demonstram que a maior parte da humanidade em muitas nações e em muitos períodos de tempo foi subjugada por forças poderosas e hierárquicas que em muitos exemplos foram incapazes de respeitar direitos básicos como a vida e muito menos liberdades individuais e privacidade.

Nossa mente moderna se acostumou a pensar nisso como uma causa ganha, mas a realidade é que as formas de poder só mudaram de figura, e a coação de forças poderosas, e hierárquicas sobre o ser humano simples e individual continua presente, mas de maneiras mais sutis e subliminares.

E eu não penso que isso vá mudar, então quanto mais segurança individual gozarmos, para mim, melhor.

Por outro lado, o argumento contrário invoca valores nobres como a segurança e o comprometimento individual com a lei, a ética e a justiça. Demonstrando que o sacrifício de liberdade individual é pouco se comparado com os benefícios da vigilância estatal contra o “inimigo”. A corrente tem a máxima que: a pessoa de bem não tem nada a esconder.

Apesar das boas intenções, repito meu argumento histórico. O excesso de poder e vigilância extrema leva ao abuso, e não podemos pensar que o abuso não nos atingirá como se o cidadão “de bem” fosse imune. Não é, porque ele é perseguido pelas suas opiniões, ideias e não necessariamente por suas ações, pune-se o que deve ser e não o que realmente é. Você fica sujeito a um código de conduta ditado pelo “Sistema” que tem o poder do Estado nas mãos naquele momento.

Nos tempos modernos o argumento de que vigilância significa segurança já foi comprovado como falacioso, por exemplo, os Estados Unidos coletaram informação de praticamente toda a população durante muitos anos através da sua sala secreta na AT&T que capturava praticamente todo relacionamento humano que se pode imaginar, o que foi comprovado por Mark Klein e Edward Snowden.

Mas o sistema não serviu para melhorar a qualidade de vida da população, mas sim para espionagem e política, com objetivo principal alvos políticos e diplomáticos do que fornecer um sistema de proteção ou investigativo para a população (até porque esses programas até então secretos não poderiam ser usados para favorecer as pessoas “comuns”).

Precisamos de um sistema legislativo forte, e punitivo contra o abuso estatal, e dos agentes públicos responsáveis pela coleta de dados pessoais e pela violação de direitos fundamentais, apenas papéis sem executabilidade não são suficientes para garantir a proteção dos cidadãos.

A batalha pela privacidade contra tecnologia é muito difícil porque o sistema nos empurra para o uso das mídias de massa, de tecnologias dominatórias e antiprivacidade, mas é uma batalha de formiguinha e a conscientização de sua importância é o primeiro passo para um povo mais consciente.


Você confiaria sua liberdade a um sistema que te reconhece antes mesmo de você se apresentar?

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