Descolar: Sobre a Arte de Tornar-se

O Espelho e a Máscara

“Conhece-te a ti mesmo”, sussurrava o oráculo de Delfos, mas quem és tu quando as máscaras caem? Shakespeare nos ensinou que o mundo é um palco, mas Bukowski nos lembrou que às vezes o palco está pegando fogo e continuamos atuando para uma plateia imaginária.

Falam que o sucesso afasta as pessoas. Que a inveja corrói os laços. Que seus amigos secretamente torcem contra você. Mas será esta a questão verdadeira? Ou estaremos, como Hamlet diante do crânio, contemplando apenas os ossos de nossas próprias ilusões?

A Metamorfose Necessária

O descolar não é sobre os outros - é sobre a coragem de questionar quem você pensa que é. Como o caranguejo que abandona sua carapaça velha, vulnerável e nu por um momento, antes de endurecer uma nova pele.

Sócrates bebeu cicuta por suas perguntas inconvenientes. Shakespeare matava seus heróis no quinto ato. Bukowski bebia uísque barato e escrevia sobre a beleza encontrada no esgoto. Todos eles entenderam: a transformação exige morte - não literal, mas a morte daquilo que você foi.

O Processo Doloroso

“Ser ou não ser” - a questão não é essa. A questão é: quem serás quando deixares de ser quem és?

O descolar é:

  • Questionar suas verdades mais sagradas
  • Abandonar o porto seguro das certezas herdadas
  • Encarar o espelho sem filtros ou desculpas
  • Aceitar que talvez você tenha sido o vilão em algumas histórias

Como diria Bukowski, “o problema com o mundo é que pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, enquanto as estúpidas estão cheias de confiança”. O descolar exige que você dance com suas dúvidas.

A Solidão Criativa

Não é que as pessoas se afastem quando você cresce. É que você percebe que algumas conexões eram apenas costuras frouxas, mantidas pela inércia da familiaridade. O descolar revela quais laços são correntes e quais são abraços.

Shakespeare colocava tolos sábios em suas peças - personagens que diziam verdades disfarçadas de loucura. Talvez o descolar seja isso: permitir-se ser o tolo que vê o rei nu, mesmo quando todos aplaudem suas vestes imaginárias.

O Renascimento

“Descolando de quem eu sou, Como serpente que abandona a pele morta, Não por vaidade ou desprezo ao passado, Mas porque o crescimento exige espaço, E as velhas formas já não comportam O ser que insiste em expandir.

Entre a dor do parto e o primeiro respiro, Existe um momento de puro terror - O vazio entre quem você foi E quem ainda não sabe ser.

Mas é neste vazio, neste não-lugar, Que a verdadeira criação acontece.”

A Pergunta Final

O descolar não é sobre tornar-se melhor que os outros. É sobre ter a coragem de tornar-se. De aceitar que toda criação exige destruição. Que todo nascimento pressupõe uma morte.

E quando você finalmente descolar - quando a velha pele cair e a nova ainda estiver macia e vulnerável - talvez descubra que nunca foi sobre fugir de quem você era.

Foi sempre sobre ter a coragem de tornar-se quem você já é, mas ainda não sabe.