El Patron x Homem Elefante
Filmes El Patron x Homem Elefante
Paralelo entre estas duas obras. Cuidado com os spoilers.
Até que ponto é possível explorar uma pessoa?
Esta frase coroa a brilhante sustentação do advogado, buscando demonstrar uma justificativa para livrar um homem simples da pena de prisão perpétua (Argentina) por homicídio.
O filmes conta a história sob três aspectos:
- Primeiro a condição do ser humano subjulgado a uma condição de escravidão e miséria;
- O aspecto jurídico da defesa do advogado e o relacionamento com seu cliente;
- A luta da consciência e remorso.
Este filme me trouxe a recordação de um dos meus preferidos, The Elephant Man - Homem Elefante.
Os dois filmes retratam a exploração do ser humano pelo seu trabalho. Mas no filme Homem Elefante também pela característica física, a vítima foi explorada por condição bizarra devido a deformação incomum de seu corpo que o levou a seu único sustento em um show de horrores.
Ambos, de sua maneira, nos mostram um dos piores aspectos do ser humano — a exploração e o abuso do outro, a ponto de remover do mais fraco, a sua própria humanidade.
O Homem Elefante chegou a um ponto de tamanha retração que já perdera a capacidade de relacionar-se com o outro, em um silêncio imposto após uma vida de humilhação. O Açougueiro, também vítima daquela infeliz realidade, incapaz de insurgir-se contra aquela situação explodiu em um rompante de violência imprevisível até para ele mesmo.
Os dois filmes são baseados em histórias reais, nos mostram pessoas abjetas das quais não é possível nutrir qualquer tipo de sentimento positivo, levando à reflexão sobre esse prisma da maldade humana.
Por outro lado, ambas histórias também nos mostram exemplos de generosidade e empatia em dois personagens memoráveis, o médico no Homem Elefante e o Advogado no El Patron.
O médico retira o Homem Elefante do ambiente hostil e exploratório em que vivia, resgatando-lhe a humanidade, mas com reflexos existencialistas inesperados.
O advogado busca sanar as consequências perversas dos atos cometidos pelo seu cliente, porém a história se desenvolve num ritmo diferente. No início o advogado estava cético e tedioso, enfrentando apenas mais um caso comum dentre tantos. Somente a partir da convivência com o cliente ele começa a encontrar fundamentos para uma tese inesperada em busca da Justiça.
A defesa da tese do cliente se desenvolve aos poucos, enquanto o próprio advogado vai se convencendo da existência do direito do cliente, traçando uma linha de defesa autêntica, retirando o direito do papel e demonstrando aos julgadores.
Em todas as etapas destas obras fica evidente o dualismo do ser humano, da eterna luta entre bem e mal, certo e errado que existe não só entre os antagonistas de explorador e de explorado, mas também nos heróis retratados pelo médico e pelo advogado.
Finalmente, em El Patron, o que me marcou muito foi a visível diferença entre o defensor público e o advogado. Um já começou entregando os pontos dando o caso como perdido e o outro buscando o direito a qualquer custo.
Foi a vontade de fazer um trabalho bem feito, cuidar de seu cliente, ouvi-lo e entender o que realmente aconteceu, evitando seu destino que já estava selado, uma história que deixaria de ser contada como tantas outras injustiças silenciosas. Em um mundo que não se importa, as pessoas de bem precisam dar dobro de si.